25 maio 2016

A Olguita

(texto da minha irmã mais nova)

A Olguita

Saíamos sempre, ao domingo. Afinal, morávamos numa cidadezinha turística.
Mesmo durante a semana, não era estranho irmos até à beira-mar, onde o picadeiro enchia na zona de verão.
A música tocava na Av. 8, emitida a partir de uma cabine de som. Scott Mckenzie convidava-nos a partir até S. Francisco ao lado de uma Gigliola Cinquetti que jurava a pés juntos "Dio como ti amo".
Roberto Carlos, entre outros estava no auge.
Um dia rezei para que ele me viesse buscar. Não disse nada a ninguém, para não dar azar e esperei por ele. De certeza que esperei sentada, caso contrário tinha feito varizes pelo corpo todo.
Nunca íamos com qualquer roupa para o picadeiro.
Quer de Inverno quer de Verão, deveríamos vestir a rigor. Mas no Verão era tudo mais bonito. Pelo Sol e pela roupa mais alegre.
Muitas vezes ía para Cesár passar as férias e "os" de lá vinham para cá.
A Fatinha, a Nené e a Olguita eram visitas assíduas na época balnear.
Traziam sempre imensos víveres, além da bagagem pessoal.
Lembro-me da bagagem da Olguita. Era sem dúvida a maior – digna de uma actriz de cinema.
- Para que queres essa porcaria toda? - perguntava eu?
- Nem é muita coisa…
Eu olhava para aquelas malas……Era cintos diferentes para cada toilette, sapatos, lenços, blusas, casacos…para não falar nos cremes. Para o Sol, para o dia, para a noite, para as rugas... credooooo - pensava eu, que passava bem com as minhas calças de ganga.
Antes de sairmos ela escovava 50 vezes o cabelo para ficar a brilhar. Tinha que esperar sempre por ela.
Depois…depois…valia a espera.
Orgulhava-me que todos olhassem para ela.
Orgulhava-me de a ter como prima.

a.

(para a Olguita, com todo o meu carinho)