18 maio 2017

as minas de Volfrâmio

O VOLFRAMIO EM AROUCA


A quando da II Guerra Mundial (1939-45), Arouca transformou-se num "El Dorado" português.
Em virtude de haver grandes quantidades de volframio, sobretudo em Rio de Frades e em Regoufe, milhares de pessoas de todo o País deslocaram-se para Arouca, para aqui tentarem a sua sorte.
O volframio era essencial para o fabrico de peças de artilharia e era altamente disputado quer pelos aliados, quer pelos alemaes.
Salazar sempre fez um jogo duplo na exploração e na comercialização do volframio. Portugal não esteve envolvido na II Guerra Mundial devido ao volfrâmio e à manhosa "neutralidade activa", praticada por Salazar.
Em Arouca, Salazar deu concessões mineiras aos ingleses em Regoufe e a 5 Kms de distância, em Rio de Frades, ficavam as explorações dos alemães, chefiados pelo germânico Kurt Dithmer e que era também o representante da empresa siderúrgica alemã Krupp.
Em Arouca, para os dois beligerantes em conflito, apenas interessava extrair o maior nº de toneladas de volfrâmio. Não consta que tenha havido conflitos entre eles, nos encontros ocasionais nas ruas da Vila.
Quer os ingleses, quer os alemães construíram estradas para permitir o escoamento do minério extraído. Construíram também bairros sociais para alojar os mineiros, sendo as condições de habitabilidade dadas pelos alemães muito superiores às concedidas pelos ingleses.
O preço do volframio dependia do curso da guerra. A partir de 1943, sobretudo depois do "dia D" (desembarque na Normandia), as coisas começaram a pender para o lado dos aliados e os preços do volfrâmio começaram a descer. No período de maior procura chegou a vender-se minério a 1.500$00/kilo, tendo descido para 300$00.
No entanto, até esse ano, ganharam-se verdadeiras fortunas, quando se tinha a sorte de encontrar um bom filão.
Como era dinheiro ganho dum dia para o outro, também desaparecia rapidamente.
Cometeram-se autênticas loucuras: acender cigarros com notas, analfabetos compravam canetas Parker para trazer no bolso do casaco com um lencinho, usava-se um relógio em cada pulso, ia-se tomar café ao Porto, de táxi, porque o café em Arouca estava cheio e demorava muito tempo a servir.
Nesse período da guerra fez-se também muita contra-informação, sobretudo em Lisboa, no tocante a carregamento de volfrâmio em barcos. Os navios mercantes eram carregados de pedra, para um determinado destino, avisavam-se os inimigos, os barcos eram afundados e os exportadores ficavam a lucrar verbas astronómicas.
Em Arouca, ficou a memória dum tempo em que os mineiros não quiseram perder a oportunidade de serem ricos por um dia, de dormir em hoteis de luxo com companhia, de cometer extravagancias e maluqueiras de toda a espécie, de gastarem fortunas em jantaradas no Porto, em comprarem fatos bem feitos na Casa Inglesa, em terem aventuras com mulheres e terem gasto somas apreciáveis no jogo.
Neste momento, as concessões mineiras estão abandonadas, as construçoes estão praticamente todas destruídas e as maquinas das lavarias retorcidas.
O "El Dorado" terminou há 60 anos, em Arouca...



As minas de volframio de Arouca constituem património da arqueologia industrial que estão ainda ao abandono a aguardar urgente intervenção.
Rio de Frades e Regoufe são hoje dois lugarejos perdidos nos confins da serra, ambos situados em locais paradisíacos, que constituem um dos mais ricos patrimónios naturais do concelho, a merecer o tratamento adequado, no sentido de perpetuar na memória, um tempo de grandezas e misérias de um povo que aí buscou fortuna e encontrou quase sempre a glória efémera.
No lugar de Rio de Frades podemos ver ainda, em bom estado de conservação as muitas construções edificadas pela Companhia alemã, para alojar os muitos mineiros e também para os escritórios da empresa que durante cerca de cinco anos aí se dedicou à exploração de volfrâmio.
No lugar de Regoufe, para além da minas ainda em bom estado de conservação há todo um conjunto de edifícios que importa preservar, nomeadamente para fins turísticos, mas sempre sem alterar a traça original e preservando os espaços envolventes, para que se não perca a memória e o inestimável património que marcou profundamente a geração que atravessou os anos da Segunda Guerra Mundial.
As construções existentes no lugar de Regoufe, feitas pela Companhia inglesa, são bem mais simples que as edificações alemãs de Rio de Frades, mas, umas e outras merecem urgente intervenção, para que as intempéries e o abandono, façam com que se percam irremediavelmente.

Tio Ze de Macieira


tambem trabalhou nas Minas de Volframio