28 maio 2015

O Paizinho

(texto da minha irmã mais nova)

 O Paizinho


Ainda hoje exibo orgulhosa a pequena fotografia a preto e branco.

Ele já tinha cabelo, quase todo, branco, e eu ainda na escola primária andava.

Gostava de o ter conhecido com o cabelo às ondinhas. Um galã. Um autêntico artista de cinema.

Nunca mais esqueci o dia da foto. De mão dada, seguia altiva. Tínhamos ido à missa à Capela da Nª Sª da Ajuda. Depois fomos ver o mar, e foi aqui que apareceu o inesperado fotógrafo.

Pena ser a preto e branco. Levava metade do meu cabelo apanhado no alto da cabeça, onde era notório o grande laçarote branco. O vestido era rosa bebé, com umas aplicações, desde os ombros até à zona do umbigo, onde passava uma fita de seda igualmente rosa. Levava ainda um casaco de malha quente e de cor azul clara, feito pela mãezinha. Os sapatos eram pretos e de verniz, enfiados numas límpidas meias brancas.

Gostava de ver as fotografias a preto e branco que eram guardadas no álbum. Apresentava sempre um ar charmoso – os ossos ainda não se queixavam. Tinha realmente ar de galã, talvez tivesse sido assim que teve frutos na conquista do seu amor.

Um dia contei-lhe que em tempos tinha imitado a sua assinatura, para ele não ver as más notas da escola. Sorriu. O meu desabafo foi uma maneira de me redimir. Também lhe contei daquela vez, em que estando em casa sozinha com o Dito, distraímo-nos e começamos a jogar à bola. Azar, acertei em cheio no relógio de parede, que caiu – já não há relógios assim, pois não sofreu muitos danos. Até àquela data sempre pensou que o relógio tinha caído por desleixo do prego.

Quando me cabia a mim, a vez de limpar o pó no quarto deles, abria a porta do guarda-fatos e perdia-me entre o cheiro da roupa domingueira, sempre perfumada.

Foi muito bom tê-lo como pai – jamais o trocaria.

Foi bom vê-lo como avô.

(para os netos do meu pai)
com carinho
a.



13 maio 2015

1ª Comunhao

13 Maio 1955

Hoje é o dia da minha 1ª Comunhao. Nao tenho fotos do evento porque na altura nao havia dessas "chiquezas". Fui com um horroroso vestido cinzento com umas riscas coloridas, embora tivesse um lindo vestidinho branco. Mas como a Maezinha estava nas Termas de Monte Real e tinha deixado indicaçoes à Titia para eu "estrear" aquela "tripa", nao adiantou nada eu dizer que o Sr.Abade tinha pedido que quem tivesse vestido branco para levar. Disse ela: a tua Mae antes de ir disse para levares este vestido por isso é esse que vais levar, nao vou contra o que ela disse (porra, mas porque é que ainda nao existiam telemoveis naquela altura???)

Penso bastante nisso quando vejo a importancia que se dá de hoje em dia ao evento, nao a nivel religioso, mas comercialmente. Ha pessoas que se empenham para fazer a festa, que gastam o que têm e o que nao têm, que ficam a dever ao restaurante, mandam fazer roupinha nova e nao pagam... enfim, fazem a festa mais para os outros verem, que para eles mesmos.

A festa está dentro de nós, é verdade, mas que eu podia ter levado o meu vestidinho branco em vez daquela "tripa cinzenta" tambem é verdade verdadinha.